quinta-feira, 21 de julho de 2011

Craft Bike Transalp – 6ª Etapa – “Já sobra”

Felizmente as previsões de chuva não se concretizaram. O dia amanheceu frio mas sem nuvens. Mesmo assim arrancámos para a 6ª etapa um pouco desconfiados com o tempo. Eu levei uma camisola interior de lã, não fosse a chuva estar à nossa espera no lado das montanhas.


Como tem sido habitual, fizemos alguns quilómetros iniciais por alcatrão, hoje até eram a descer. Mas ao quilómetro 5 saímos da estrada principal e entrámos numa pequena aldeia. A partir daí foram cerca de 20km quase sempre em subida, algumas rampas eram tão inclinadas e escorregadias que tínhamos que carregar a bicicleta à mão. Nessa altura arrependi-me logo de ter levado a camisola interior de lã. Transpirava em bica!
Demorámos quase duas horas a percorrer estes primeiros 20km. Nesta altura até estávamos bem posicionados, íamos num pequeno grupo no qual ia a primeira atleta feminina. Não deveriam ir mais de 15-20 equipas á nossa frente.
Mas por volta do quilómetro 20, tive um corte de corrente. E nem foi a nível físico. A capacidade de sofrimento tinha chegado ao fim. Há muitos anos que não sofria tanto e tantos dias seguidos em cima da bicicleta. E a etapa de ontem terá sido a gota de água.

Durante a etapa de hoje pensei muitas vezes porque me tinha metido nisto. “Que necessidade tenho eu de estar numa prova de oito dias, nos Alpes, e mal preparado?! Vinte anos da minha vida foram passados em competições de bicicleta. Com muitas alegrias, é certo, mas também com muito sofrimento, dor e decepções. Nessa altura sofria em cima da bicicleta porque era a minha profissão. Terei eu necessidade de continuar a prolongar esse sofrimento?”
Disse mal dos Alpes, disse mal da organização que escolheu todas estas subidas e disse mal de mim mesmo por ter tomado a decisão de vir ao Transalp, apenas um mês e meio depois do Titan Desert.


O Craft Bike Transalp já me estava a sobrar.
- Zé, estou farto desta paisagem, estou farto de subir, dói-me o corpo, e não devia ter vindo ao Transalp sem treino adequado. A partir de agora vou em ritmo de passeio, que se lixe à classificação!
- Pois, para a próxima tens que treinar. – Respondeu-me o Zé
- Não Zé, para a próxima… não venho.
Depois disso tirei andamentos, e fomos mais tranquilos. Na zona de abastecimento seguinte parámos tranquilamente para comer e beber. Tenho a sensação que o Zé comeu meio melão.
Entretanto passaram mais de 20 equipas por nós. E nenhuma tinha um ritmo ideal para seguirmos junto com eles. A etapa parecia quase sempre a subir. Sempre que aparecia uma descida parava de pedalar para desfrutar ao máximo desse momento, pois sabia que de seguida viria mais uma subida.

Demorámos 4h36 a fazer os 74km da etapa, com 3156 metros de subida acumulada. Hoje, e apesar da paisagem ser mais uma vez espectacular, estava farto. O Zé, sem culpa nenhuma deste meu cansaço, leva também por tabela, pois tem que seguir ao meu ritmo, que apesar de não ser dos mais lentos, é muito abaixo daquilo que ele poderia andar.

Terminámos a etapa às 13H40. Como tem sido habitual, na zona de meta hà uma tenda com algo para lanchar. Este lanche varia de dia para dia. Uns dias tem sido espectacular, outros nem por isso. Caso de hoje. Tínhamos apenas fruta, passas de uva e barras energéticas. Isto não é alimentação para recuperar de um esforço tão duro! Felizmente que viemos prevenidos de Portugal, com Fast Recovery e Goldrink Premium em quantidades suficientes para os 8 dias de prova. De qualquer forma, a Cristina já foi a um supermercado comprar pão, bolachas e sumo.

No momento em que estou a escrever esta crónica, são 17:12 e chove torrencialmente, e ainda faltam chegar atletas. Alguns destes têm demorado mais de 8 horas a cumprir cada etapa deste Transalp. Chegam à hora do jantar e o cansaço é tal que já nem se dão ao trabalho de lavar a roupa e muito menos a bicicleta.

Por falar em bicicletas. Quer a minha Cannondale, quer a KTM do Zé, têm-se portado de forma exemplar. Viemos sem mecânico. A única manutenção tem sido passar por água e pôr óleo na corrente no final de cada etapa. Nada mais.
Uma curiosidade: cerca de 30-35% das bicicletas neste Transalp, já são de roda 29’’. Tendências ou não, isto já não é o futuro, mas sim o presente.

Faltam duas etapas. Amanhã temos 123km com 2600 metros de acumulado. Se chover vai ser mais um filme de terror.

Até amanhã,
Vítor Gamito

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